Em Ribeirão Preto, o movimento pró Faculdade de Medicina foi intenso, com a participação de vários segmentos da sociedade e do Centro Médico. O Dr. Paulo Gomes Romeo foi um dos líderes e, posteriormente, enquanto Presidente do Centro Médico, teve papel importante na instalação da FMRP. (2, 3, 4).
Na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, no ano de 1947, a partir da apresentação de projeto do Deputado Miguel Petrilli, que pleiteava a criação de Universidade em São Carlos, discutia-se a interiorização do Ensino Superior. Então, o Deputado Luiz Augusto Gomes de Matos incluiu o Projeto de Lei que resultou na criação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (5).
O Governo do Estado de São Paulo apoiava a ideia da interiorização do ensino superior, mas não havia unanimidade na Universidade de São Paulo (USP), em relação à Medicina. Apesar de existir na Faculdade de Medicina grande número de Livre-docentes capacitados a atuarem na nova Escola Médica, a ampliação poderia ocasionar perda da qualidade do ensino. Mas os dirigentes eram favoráveis e, em 1951, foi solicitado à “Comissão de Ensino e Regimentos”, coordenada pelo Prof. Dr. Zeferino Vaz, que estudasse a possibilidade de implantação da nova Escola, organizasse o currículo e planejasse a sua instalação (1, 3, 4). A aprovação final da estrutura curricular, pelo Conselho Universitário, ocorreu em setembro de 1951. Três meses depois o funcionamento da FMRP foi autorizado, pela lei Estadual 146, de 26 de dezembro de 1951. O Prof. Vaz foi indicado para ser o primeiro Diretor da FMRP.
Além das características pessoais de Zeferino Vaz – que era um homem empreendedor, visionário, sensível às necessidades da sociedade, (que começava a delinear o tipo de serviço de saúde que gostaria de receber) e estava determinado a criar uma Escola Médica de destaque – diversos fatores influenciaram a escolha do modelo didático-pedagógico e do Corpo Docente da FMRP:
– O modelo americano da época (Flexeneriano), que garantiria à FMRP características inovadoras, enfatizava a pesquisa, a tecnologia e a superespecialização, assim como a separação do ensino básico do clínico e o tempo integral (1);
– A Fundação Rockfeller, que seria a principal fonte de financiamento da nova Instituição recomendava, fortemente, que esse modelo fosse contemplado (2);
– A Residência Médica, no Brasil, estava sendo considerada e iniciavam-se discussões sobre o Curso de Pós-graduação “stricto sensu” (1).
Por outro lado:
– “mudanças de legislações (já existiam no Brasil os primeiros Institutos de Previdência); mudanças econômicas, e sociais, com a conseqüente modificação do sistema de saúde e valorização da prevenção” (1) ocorriam no Brasil, na América Latina e em outras regiões do mundo, e isso foi contemplado com a proposta da inclusão no projeto da FMRP de um Centro de Saúde-Escola.
Além disso:
– a importância da Medicina Preventiva, a fusão de cátedras em Departamentos, a limitação do número de vagas e rigorosa seleção dos alunos constavam nas proposições do Congresso Pan-Americano de Educação Médica de 1951 (2). Esta entidade, recomendava também, “o tempo integral para as disciplinas básicas e clínicas, criação de uma Escola de Enfermagem e a criação de um Hospital Escola”, o que estava de acordo com o “modelo americano” e com as exigências da Fundação Rockfeller (2).
O corpo docente inicial da FMRP foi composto por renomados professores europeus, sul americanos e brasileiros (1, 2). E vale destacar que constavam no currículo inicial da FMRP disciplinas que não existiam em outras Escolas Médicas brasileiras da época, com a Psicologia Médica.
Na fase de instalação e nos primeiros anos a sede e alguns laboratórios da FMRP funcionaram em uma casa situada na Rua Visconde de Inhaúma, 757, Centro, e aulas foram ministradas no prédio da Faculdade de Farmácia e Odontologia. A Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto propiciou o treinamento clínico e cirúrgico.
Ainda nos anos 1950 ocorreram a mudança da FMRP para a sede da antiga Escola Agrícola, a disponibilização de moradias para docentes e funcionários (nos arredores do Prédio Central), e a criação e a implantação do Hospital das Clínicas. Com a finalização da construção de novo prédio, em 1978 e 1979 o HC mudou para o Campus. Na antiga sede foi instalada a Unidade de Emergência.
Em 02 de abril de 1963, sob a Presidência do Vice-Diretor, Prof. Dr. Mauro Pereira Barreto, foi instalada a Congregação da FMRP (ata histórica). Nos primeiros anos, quando necessário quorum específico, este era completado com docentes dão Faculdade de Farmácia e Odontologia.
Zeferino Vaz permaneceu na FMRP por 12 anos. Em 20 de março de 1964, a Congregação da FMRP despediu-se de seu criador realizando Sessão Solene para conceder-lhe o Título de “Professor Honoris Causa”, com a presença do Magnífico Reitor, de Diretores de outras Unidades da USP e de autoridades civis e eclesiásticas.
Ao longo das décadas, mudanças curriculares foram necessárias, decorrentes de: “avanços da ciência e da tecnologia para diagnóstico e tratamento e industrialização; mudanças de legislações; mudanças econômicas, políticas e sociais, com a consequente modificação do sistema de saúde e valorização maior da prevenção; surgimento de diferentes doenças; descoberta de novos medicamentos; e por demanda dos alunos e pela vontade de dirigentes de departamentos de ensino e de colegiados” (1).
Nesses 60 anos ocorreram a criação do Curso de Ciências Biológicas (década de 1960), a implantação da Residência Médica e da Pós-graduação stricto sensu, reestruturações departamentais, a organização do Museu Histórico (7), mudanças nos papéis do Professor de Ciências da Saúde, mudanças nas atividades meio (8), elaboração de Plano Diretor, criação de fundações, lançamentos de revistas científicas e a instalação de novos cursos (Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Nutrição e Metabolismo, Fonoaudiologia, além de Informática Biomédica, compartilhado com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – FFCLRP).
A hierarquização do sistema de saúde, assim como das novas solicitações do “paciente-cidadão”, requereram mudanças, também no Hospital das Clínicas (destinado predominantemente aos níveis terciário e quaternário), na Unidade de Emergência e nas outras unidades de apoio, com significativa ampliação dos espaços extra-muros. A FMRP passou a atuar, também, em outras vertentes da extensão universitária.
Assim, a FMRP procura formar profissionais adequados às necessidades de saúde do Brasil; que os egressos de seus Programas de Residência (Médica e Multiprofissional) garantam excelente nível de atenção à saúde e que seus cursos de extensão universitária contribuam para a educação permanente de profissionais de áreas diversas. Forma Mestres, Doutores, Pesquisadores e Pós-doutores; desenvolve importantes pesquisas, contribuindo para a evolução do conhecimento científico e, através de suas atividades culturais e extensionistas, cumpre seu compromisso social (4).
REFERÊNCIAS:
- Rodrigues MLV – Inovações no Ensino Médico e outras mudanças: aspectos históricos e na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (editorial). Medicina Ribeirão Preto 2002; 35: 231-235.
- Moraes MAS – A História da Faculdade.
- Moreira AC – O Jubileu da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e a Universidade de São Paulo. Medicina Ribeirão Preto, 2002; 35: 237-240.
- Maciel BC – Discurso proferido na Sessão Solene da Congregação, comemorativa aos 60 anos da FMRP – 21 de maio de 2012.
- https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1025324
- https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1948/lei-161-24.09.1948.
- Coelho MAN, Hoffmann A – A Cultura na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Medicina Ribeirão Preto, 2002; 35: 367-370.
- Furtado HEAL, Castro AF, Faria IGC, Bezerra RC R – 50 anos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Mudanças nas atividades meio. Medicina Ribeirão Preto, 2002; 35: 241-246.
Outras fontes consultadas:
– Atas da Congregação da FMRP-USP.
– Processos administrativos da FMRP-USP.
Profa. Dra. Maria de Lourdes Veronese Rodrigues
Prof. Titular do Depto de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço
e Presidente da Comissão de Cultura e Extensão Universitária – FMRP-USP
Jornalista: Raquel Tsuji Iliano