Você sabia que provavelmente o seu desempenho escolar foi mensurado por avaliações somativas? A maioria das instituições de ensino são focadas em métodos avaliativos que buscam analisar o progresso da aprendizagem de forma classificatória, ou seja, fazendo com que os alunos tenham somente provas que testam conhecimento teórico para serem aprovados ou reprovados.
O problema dessa realidade é que há outras habilidades que devem ser levadas em consideração no momento de avaliar o aluno. “A competência profissional é formada não só pelo domínio cognitivo, mas também pelo domínio das habilidades psicomotoras e pelo domínio das atitudes e profissionalismo”, explica a professora Mariana Kiomy Osako e coordenadora do Centro de Avaliação em Ensino de Graduação (CAEG) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
A docente conta ainda que a educação, como em toda a ciência, é uma área de conhecimento que envolve pesquisa, reflexão e exige constante evolução e treinamento contínuo. “É preciso capacitar nossos professores para uma avaliação mais abrangente de habilidades e de atitudes, assim como aprimorar os métodos avaliativos do domínio cognitivo já existentes. Neste contexto, a avaliação formativa do estudante, que prevê o feedback, também vem ganhando espaço e relevância na formação do profissional, pois é mais uma oportunidade de a avaliação fomentar efetivamente o aprendizado”, completa.
A importância de refletir sobre as avaliações somativas ficou ainda mais evidente com a necessidade de paralisação das aulas presenciais e das atividades remotas durante a pandemia da covid-19. Neste sentido, as provas que exigem raciocínio ganharam destaque entre os professores por demandar respostas mais completas e que não são facilmente encontradas na internet.
“Na área da saúde, por exemplo, algumas habilidades ficaram evidentes, como a comunicação e o atendimento do paciente pela internet. Assim, a pandemia trouxe uma mudança de paradigma na forma de avaliar o domínio cognitivo e um desafio para se avaliar habilidades e atitudes neste novo cenário de atuação profissional”, explica a professora Mariana.
Importância para vida e aprendizado dos alunos
O impacto de um método adequado de avaliação reflete no profissional formado que vai estar em contato com a sociedade. Afinal, a formação vai além do conhecimento técnico pois engloba os aspectos de relacionamento com todos os agentes do convívio profissional, como chefia, pares, pacientes e clientes. “Capacitar professores para fazerem uma avaliação de boa qualidade ajuda na tomada de decisões e auxilia os estudantes a aprenderem o que precisam saber, demonstrar e fazer”, conta.
A avaliação dos domínios cognitivo, habilidade e atitude durante a formação do estudante possibilita um acompanhamento longitudinal e contínuo com o objetivo de consolidar o aprendizado em pontos estratégicos da formação. “A inserção de avaliações formativas com feedback mais frequente e utilizando abordagens técnicas e condições mais adequadas também auxiliam em ajustes durante a formação”, completa.
Consórcio busca criar propostas para avaliação de estudantes
Entre as iniciativas para a otimização das avaliações dos estudantes está a oficina “Princípios e Boas Práticas para Avaliação do Estudante” que foi realizada de forma on-line no mês de abril com a participação de docentes das três instituições de ensino com o objetivo de estabelecer o diálogo para o aprimoramento dos métodos avaliativos. O evento faz parte das atividades do consórcio Avaliação da Competência Profissional na Saúde: o próximo passo, que é liderado pela FMRP com participação da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP).
Os participantes foram apresentados aos conceitos e critérios de qualidade para a avaliação do estudante e os tipos de avaliação disponíveis para cada objetivo. Durante a oficina, os professores revisaram e aprimoraram as propostas de avaliação do estudante para 17 cursos da área da saúde, incluindo todos os sete cursos da FMRP, sete cursos da UFTM e três cursos da FAMERP.
“A partir destas propostas, haverá no futuro próximo oficinas de capacitação específicas para cada tipo de avaliação. Este conjunto de atividades está previsto em um projeto específico que foi aprovado no edital 2020-2022 chamado Latin America Grants do National Board of Medical Examiners (NBME) e conta com um financiamento de 50 mil dólares”, conta a professora.
A oficina foi ministrada pelas professoras Mariana e Elen Almeida Romão, vice coordenadora do CAEG, e pelos docentes Valdes Roberto Bollela e Luiz Ernesto de Almeida Troncon, coordenador e vice coordenador do Centro de Desenvolvimento Docente para o Ensino (CDDE); todos da FMRP.
O NBME é uma agência independente dos Estados Unidos da América que faz as avaliações externas dos estudantes de medicina e dos médicos já formados. A aprovação nos exames do NBME é um requisito para o treinamento na Residência Médica e para o exercício da profissão. Além disso, a agência constitui um órgão de fomento à educação profissional nas profissões da saúde, financiando projetos que privilegiam o aperfeiçoamento das avaliações.
Mais informações: mko@fmrp.usp.br com a professora Mariana Kiomy Osako