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Lívia Luiza Pinaso - Foto: arquivo pessoal

Estudante da FMRP é premiada entre as 25 melhores jovens cientistas da América Latina

Lívia Luiza Pinaso foi reconhecida por estudo que pode aprimorar o rastreamento genético do câncer de mama

A estudante do 5° ano de Medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Lívia Luiza Pinaso, foi reconhecida como uma das 25 melhores jovens cientistas da América Latina por sua pesquisa sobre a correlação entre mosaicismo somático e o risco de câncer de mama. O programa, promovido pela empresa 3M, tem como objetivo destacar o potencial das mulheres nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática, além de inspirar as futuras gerações de cientistas latino-americanos rumo à jornada acadêmica e reduzir a lacuna de gêneros que persistem no campo da ciência.  Nesta edição foram 10 vencedoras representando o Brasil, 10 do México e outras cinco representando outros países da América Latina.

O estudo de Lívia, desenvolvido no Laboratório Transacional de Oncologia coordenado pelo professor Leandro Colli do Departamento de Imagens Médicas, Hematologia e Oncologia Clínica da FMRP, analisou a relação entre alterações genéticas adquiridas ao longo da vida e o desenvolvimento do câncer de mama, com potencial impacto na prevenção e no diagnóstico precoce da doença.

A pesquisa revelou que mulheres com ancestralidade latino-americana têm um risco aumentado para o câncer de mama, sugerindo a influência de fatores genéticos ainda pouco explorados. Além disso, o estudo identificou que o mosaicismo somático — condição em que há mais de uma linhagem celular geneticamente distinta no corpo de um indivíduo — está mais presente em mulheres com câncer de mama do que na população geral, sendo especialmente prevalente em mutações no cromossomo X e na perda de material genético, possivelmente associada à inativação de genes supressores tumorais.

Motivação e trajetória acadêmica

Desde cedo, Lívia manifestou interesse por oncologia, uma área que ganhou ainda mais significado após o diagnóstico de câncer de mama de sua mãe, quando ela tinha 13 anos. Esse interesse a levou a ingressar na FMRP, onde encontrou um ambiente favorável para pesquisa.

“Escolhi vir para cá porque a Faculdade tem um forte campo de pesquisa aberto para os alunos. Logo que entrei, procurei uma iniciação científica e me envolvi com a Liga de Oncologia. Foi assim que conheci o professor Leandro Colli e iniciei meus estudos na área de genética e bioinformática”, explica Lívia.

O trabalho envolveu a análise de dados genômicos e estatísticos, utilizando ferramentas de bioinformática para correlacionar o mosaicismo somático com o risco de câncer de mama.

Reconhecimento internacional e impacto na carreira

Ser premiada como uma das 25 melhores jovens cientistas da América Latina foi uma surpresa para Lívia. Indicada ao prêmio por um dos colegas do laboratório, ela considera a conquista um importante incentivo para continuar sua trajetória acadêmica.

“Eu tinha uma grande insegurança sobre minha pesquisa, porque poucas pessoas conhecem esse tema. Mas, ao passar pelas entrevistas do prêmio, percebi o quanto meu trabalho é relevante e como ele pode impactar a vida das pessoas”, afirma.

Lívia acredita que o reconhecimento pode abrir portas para novas colaborações e investimentos na área. “Meu objetivo é que, dentro de alguns anos, essa pesquisa possa ser aplicada na prática clínica, ajudando no rastreamento genético do câncer de mama”, complementa a estudante.

Ciência e desafios para mulheres na pesquisa

Além da contribuição científica, Lívia destaca os desafios enfrentados por mulheres na pesquisa acadêmica. Segundo ela, questionamentos sobre a competência e o papel da mulher na ciência ainda são frequentes, o que pode desestimular muitas pesquisadoras.

“Já fui questionada diversas vezes sobre minha capacidade intelectual, especialmente por ser jovem. Além disso, há uma cobrança social sobre como conciliar carreira e família, algo que raramente se impõe aos homens”, relata.

Para ela, a conquista do prêmio reforça a importância de seguir seu caminho na ciência, independentemente das barreiras impostas. “Esse reconhecimento não é só para mim, mas para todas as mulheres que enfrentam desafios semelhantes na pesquisa”, conclui.

A pesquisa segue em desenvolvimento, com novos estudos focados em entender a carga genética que influencia o risco de câncer de mama em populações latino-americanas. O objetivo é identificar genes específicos que possam auxiliar na personalização do tratamento e na criação de estratégias mais eficazes de rastreamento e prevenção.


Texto: Eduardo Nazaré

Dr. Fisiologia – Assessoria de Comunicação da FMRP-USP