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Programa de residência médica traz formação pioneira na área de gestão

Em resposta à crescente necessidade de líderes na saúde pública, programa de gestão médica da FMRP alia inovação, sustentabilidade e compromisso social

Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP implementou um programa pioneiro para formar médicos gestores com uma visão abrangente e integrada da saúde pública. Com foco na especialidade de Medicina de Família e Comunidade, o projeto busca a preparação de profissionais que conciliam habilidades gerenciais e uma perspectiva voltada para a sustentabilidade e a saúde comunitária.

Cely Carolyne Pontes Morcerf, primeira residente do programa, sob orientação do professor João Mazzoncini de Azevedo Marques, explica que há uma demanda por profissionais capacitados não apenas para atuar em cenários clínicos, mas também para enfrentar questões organizacionais e gerenciais, promovendo soluções que integrem equipes e atendam de forma efetiva as necessidades das comunidades. Ela destaca que a formação em gestão, até então escassa nos currículos médicos, transforma a visão dos médicos, que passam de um perfil puramente assistencial para gestores comprometidos com o desenvolvimento social e organizacional.

Crescimento da demanda e lacunas na formação médica

A necessidade de médicos gestores vem crescendo rapidamente no Brasil, especialmente diante dos desafios enfrentados pelo SUS. A demanda não se restringe ao gerenciamento de casos clínicos, mas envolve também a coordenação de equipes, o desenvolvimento de protocolos e a organização de fluxos e agendas em um sistema frequentemente sobrecarregado. A escassez de profissionais capacitados para lidar com essas complexidades reflete a ausência de uma formação abrangente em gestão durante a graduação médica.

“Esse cenário é compatível com as lacunas nos serviços de saúde, onde a falta de profissionais qualificados impede uma atuação efetiva na identificação e resolução de problemas complexos,” comenta Cely. Ela explica que o programa de residência em Medicina de Família e Comunidade, com sua especialização em um ano adicional de Gestão, busca preencher essa lacuna ao oferecer uma formação que combina prática e teoria, com módulos interdisciplinares desenvolvidos em parceria com a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP e outras instituições. Essas parcerias, segundo Cely, têm sido fundamentais para que o programa promova uma formação alinhada com as necessidades contemporâneas do SUS e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Ferramentas de gestão como pilares da formação

Entre as metodologias aplicadas, destacam-se ferramentas de gestão que oferecem aos residentes uma abordagem estruturada e analítica para enfrentar problemas organizacionais na saúde pública. O uso do diagrama de Ishikawa, conhecido como “diagrama de espinha de peixe”, e a técnica dos “5 Porquês” orienta os profissionais a identificar as causas profundas dos problemas e a planejar soluções específicas e mensuráveis.

“As ferramentas auxiliam na organização e sistematização, criando uma lógica para o entendimento de causa e consequência,” explica Cely. “Elas permitem que o médico visualize os problemas de forma concreta, transformando o que antes parecia um obstáculo intransponível em algo palpável e passível de intervenção.”

Além disso, o programa introduz o método 5W2H (What, Why, Where, When, Who, How, How much), que auxilia na estruturação de planos de ação detalhados, desde a identificação dos líderes responsáveis pela execução das ações até a definição de prazos para cada etapa. “Essas ferramentas evitam o caráter subjetivo de percepção do problema e permitem a construção de um planejamento que prioriza a resolução das causas raízes,” afirma Cely. A sistematização do processo ajuda os profissionais a manter o foco em resultados concretos, promovendo mudanças efetivas e otimizando recursos.

Enfoque sustentável e comunitário

O diferencial do programa da FMRP está em seu enfoque na sustentabilidade e na saúde comunitária. A formação prioriza práticas que otimizem o uso de recursos, promovam a integração de serviços e valorizem a qualidade do ambiente de trabalho, sempre com um olhar atento à preservação ambiental e à promoção da saúde planetária.

Segundo os coordenadores do programam formar médicos gestores com uma visão comunitária e sustentável implica não apenas gerenciar pessoas e fluxos, mas também promover um modelo de saúde que considere a natureza como parte do processo saúde-doença. O desenvolvimento de lideranças na saúde pública requer uma compreensão das inter-relações entre o meio ambiente e a saúde das populações. No contexto do SUS, isso significa uma gestão que contemple o atendimento direto ao paciente e também políticas públicas que incentivem a preservação de áreas verdes, o descarte responsável de resíduos e a criação de espaços saudáveis.

Impacto na prática médica e expectativas para o futuro

A formação oferecida pelo programa busca preparar médicos capazes de atuar em diferentes níveis de complexidade no SUS, desde o gerenciamento de unidades de saúde até a assistência direta ao paciente. A expectativa é que esses gestores promovam uma transformação nos serviços de saúde, implementando práticas que melhorem a qualidade do atendimento e a experiência do paciente, reduzindo desperdícios e aumentando a eficiência.

Para Cely, a experiência no programa de gestão tem sido uma oportunidade de desenvolver competências que impactam diretamente a prática médica: “A formação em gestão nos ensina a resolver o problema certo, no momento adequado, utilizando recursos de forma estratégica.” Ela observa que essa abordagem reflete uma mudança profunda na forma como os médicos se relacionam com o sistema de saúde e com os pacientes. A aplicação das ferramentas de gestão permite resolver problemas cotidianos, além de prevenir o surgimento de novos obstáculos, melhorando o fluxo de trabalho e promovendo uma experiência de assistência mais satisfatória.

Reconhecimento e expansão do programa

O programa tem ganhado reconhecimento nacional e internacional, com apresentações em congressos de destaque como o Engema e o Singep, além de publicações em revistas especializadas. A interação com pesquisadores e gestores de diversas partes do mundo permitiu ao programa integrar experiências internacionais e adaptar práticas bem-sucedidas ao contexto brasileiro.

O programa representa um primeiro passo rumo à expansão da formação em gestão na saúde pública. É esperado que a experiência da FMRP inspire outras especialidades e instituições de ensino a adotar programas semelhantes, promovendo uma nova geração de líderes na saúde.  Para Cely, formar médicos gestores com uma visão estratégica e sustentável, contribui para o fortalecimento do SUS e para a construção de um sistema de saúde mais eficiente e justo para a população brasileira.