Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica traz a discussão sobre a integração entre a ciência, a tecnologia, a inovação e a medicina
O avanço da tecnologia na medicina tem proporcionado mudanças que estão transformando o acesso e a qualidade dos cuidados na saúde. No Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB 2024), realizado em Ribeirão Preto, entre 2 e 6 de setembro, especialistas discutiram como as inovações nas áreas de inteligência artificial, robótica e nanotecnologia estão redefinindo a prática médica e beneficiando diretamente a população. O evento, que reuniu mais de 800 participantes de 158 cidades do Brasil e 11 países diferentes, também abordou a necessidade de o Brasil reduzir sua dependência de equipamentos médicos importados, estimulando a produção local de tecnologia.
Durante a abertura do CBEB 2024, Antonio Adilton Oliveira Carneiro, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica e da Comissão Organizadora do evento, destacou que a engenharia biomédica vai além das grandes inovações. Para ele, a reengenharia de processos e a otimização de tecnologias existentes têm papel relevante ao integrar diferentes áreas do conhecimento. “O setor de saúde requer contribuições amplas. A engenharia biomédica tem a tarefa de aplicar o conhecimento gerado em áreas como exatas e biológicas para promover inovações que atendam as necessidades da prática clínica”, explicou Carneiro.
Tecnologias emergentes, como a inteligência artificial e os microcontroladores, são parte dessa revolução. Segundo Carneiro, os avanços já estão criando novos modelos de utilidade que tornam o diagnóstico e o tratamento mais rápidos e precisos. “A aplicação dessas tecnologias está transformando a saúde, tornando os processos mais eficientes e melhorando os resultados clínicos para os pacientes”, afirmou.
Robótica e inteligência artificial no cotidiano médico

O uso de robótica e inteligência artificial foi um dos temas de maior destaque durante o congresso. Gil Giardelli professor, roboticista e AI Eticista, discutiu como essas tecnologias estão transformando a medicina ao trazer mais precisão e previsibilidade aos procedimentos médicos. “A inteligência artificial já está ajudando os médicos a analisar grande volume de dados com mais rapidez, enquanto a robótica tem permitido que cirurgias sejam realizadas com maior precisão, reduzindo complicações e o tempo de recuperação dos pacientes”, explicou Giardelli.
Ele destacou que essas tecnologias estão levando a medicina a se tornar cada vez mais preditiva, o que significa que doenças podem ser diagnosticadas antes mesmo de apresentarem sintomas. “A combinação de inteligência artificial e robótica está mudando o panorama da saúde, melhorando a eficiência do tratamento e ampliando a longevidade com qualidade”, completou.
O desafio de uma produção nacional

Sandro Scarpelini, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e ex-presidente do Supera Parque, revisitou uma questão importante que permeou as discussões no CBEB: a dependência do Brasil em relação à importação de equipamentos médicos. Embora o País tenha centros de pesquisa de excelência, a maioria dos dispositivos médicos utilizados ainda é importada, o que limita a autonomia do Brasil na área da saúde.
“Precisamos transformar o conhecimento que geramos em produtos no mercado. A criação de uma indústria nacional de equipamentos médicos é urgente para que o Brasil possa reduzir sua dependência externa”, afirmou Scarpelini. Ele destacou que, durante crises como a pandemia de Covid-19, essa dependência mostrou-se ainda mais problemática. “A capacidade de produzir tecnologia médica dentro do País não é apenas uma questão econômica, mas também de segurança sanitária”, enfatizou.
Scarpelini também ressaltou que o Brasil tem potencial para se destacar globalmente no desenvolvimento de tecnologia médica, desde que políticas públicas incentivem esse movimento. “O País precisa de um ambiente mais favorável para startups e empresas nacionais que estejam dispostas a investir no setor de tecnologia aplicada à saúde”, completou.
Inovações que ajudam a saúde pública

Durante a abertura do CBEB, Jane Aparecida Cristina, Secretária da Saúde de Ribeirão Preto, destacou os benefícios que as novas tecnologias estão trazendo para o sistema público de saúde. “A inteligência artificial, por exemplo, já está ajudando a prever complicações em pacientes internados, permitindo uma resposta mais rápida e eficaz da equipe médica”, comentou Jane.
Ela ressaltou que o uso de tecnologia nos hospitais públicos têm melhorado a qualidade do atendimento, garantindo que os recursos sejam utilizados de forma mais eficiente. “As tecnologias emergentes, como a automação e o monitoramento remoto de pacientes, estão facilitando o trabalho das equipes de saúde e melhorando os resultados para os pacientes”, afirmou Jane.
Já o prefeito da cidade, Duarte Nogueira, destacou como a cidade se consolidou na vanguarda da inovação em saúde desde a criação da FMRP, na década de 1950. “A cidade tem se destacado em eventos internacionais como este, devido à sua estrutura de pesquisa e tecnologia aplicada à saúde”, disse Nogueira.
Com a presença de centros de inovação como o Supera Parque, que abriga startups focadas em tecnologia para a saúde, Ribeirão Preto também tem impulsionado o desenvolvimento econômico por meio da inovação. “Esse ecossistema não só fomenta o conhecimento científico, mas também gera empregos e promove o crescimento econômico da região”, completou o prefeito.
Wilson França, Secretário de Inovação e Desenvolvimento de Ribeirão Preto, apontou que o CBEB não é apenas um evento científico, mas também uma oportunidade para o fortalecimento econômico da cidade. Ele mencionou que Ribeirão Preto está se consolidando como um polo de startups voltadas para a saúde, e que essas iniciativas já estão gerando impactos diretos na economia local.
“Cerca de 60% das startups incubadas no Supera Parque estão focadas em soluções para a saúde. Essas empresas estão desenvolvendo tecnologias que melhoram o atendimento médico e têm o potencial de se tornarem produtos viáveis no mercado global”, afirmou França.
O Engenheiro Biomédico na modernização da saúde

Sônia Maria Malmoge, professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB) trouxe a importância do engenheiro biomédico na modernização da saúde. Ela explicou que esse profissional atua na interface entre a tecnologia e o ambiente clínico, garantindo que as inovações sejam implementadas de forma eficiente nos hospitais.
“O engenheiro biomédico é treinado tanto nas ciências exatas quanto nas biológicas, permitindo que ele entenda as necessidades dos profissionais de saúde e desenvolva soluções tecnológicas adequadas para o ambiente hospitalar”, disse Sônia. Ela também destacou que o Brasil precisa investir na formação desses profissionais para reduzir sua dependência de soluções tecnológicas externas. “Desenvolver tecnologia localmente não é só importante para a saúde pública, mas também para a competitividade do País no cenário global”, acrescentou.
Além das palestras e discussões, o CBEB 2024 promoveu atividades como o Ideathon e a Biochallenge Brasil, competições que reuniram jovens de várias partes do Brasil para desenvolver soluções tecnológicas para a saúde. Carneiro destacou a importância dessas iniciativas, afirmando que elas ajudam a formar novos profissionais e a estimular a inovação no setor.
“Essas competições permitem que jovens talentos apliquem o conhecimento que adquiriram em situações reais, criando soluções para problemas concretos da área da saúde”, explicou Carneiro. As competições também serviram como uma ponte entre a academia e o mercado, aproximando os jovens de grandes empresas e instituições do setor.
Texto: Eduardo Nazaré – Dr. Fisiologia
Assessoria de Comunicação da FMRP