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Projeto da FMRP usa Jogos Vorazes para explicar a importância da Medicina de Família e Comunidade

Técnica foi utilizada durante um trabalho de Cely Morcerf, Mestranda da FMRP e Residente do último ano de Medicina de Família e Comunidade do HCFMRP/USP

Uma das maiores sagas da literatura e do cinema, a franquia Jogos Vorazes foi aliada de uma aluna da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP para explicar a importância da Medicina de Família e Comunidade.

Cely Carolyne Pontes Morcerf, Mestranda da FMRP/USP e Residente do último ano de Medicina da Família e Comunidade (MFC) do Hospital das Clínicas (HCFMRP/USP), aproveitou o lançamento do novo filme, “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”, para estimular os alunos da disciplina de Atenção à Saúde na Comunidade, onde ela ajuda nas aulas de Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP), a simularem o atendimento de um paciente complexo, com dificuldades de acesso, questões sociais, mentais, multimorbidade e outras demandas, tudo isso dentro do universo do filme.

A partir da metodologia Role-Playing, os alunos são caracterizados como membros de uma equipe de Saúde da Família e inseridos no desafio do atendimento de um paciente imigrante do sertão nordestino, uma realidade análoga à situação de vulnerabilidade do Distrito 12 de Panem (onde se passa o filme), com questões sociais, psicológicas, polifarmácia, multimorbidade e fraco vínculo com serviços de saúde.

A metodologia problematiza questões como o coronelismo eleitoral, política do pão e circo, falta de suporte familiar e impacto no processo saúde-doença, estigma no atendimento em saúde de populações invisibilizadas, questões de classe social, pobreza e supervalorização do trabalho na saúde suplementar em contraponto ao atendimento na saúde pública. Também é alvo da discussão o motivo de ser a MFC a especialidade com a formação adequada para o cuidado na Estratégia Saúde da Família, assim como no atendimento de populações marginalizadas, principalmente pela necessidade de utilizar habilidades de comunicação, como o MCCP.

“O estudo da filosofia da saga Jogos Vorazes e dos artigos sobre a obra nos permite utilizar uma linguagem de fácil entendimento à população alvo da disciplina: jovens que estudam na maior universidade da América Latina e que estão em formação para uma profissão extremamente competitiva e sonhada: a Medicina. Desde a escola até a imersão nos cursinhos, é ensinado a lei de que o mais forte sobrevive, tal qual uma ideia de seleção natural, e de que para conseguir o sucesso na medicina você deve ser o melhor, eliminando o concorrente. Porém ao trabalhar no mundo real, nos deparamos com o Brasil e o mercado de trabalho, de que uma formação elitista e de médicos que procuram um status de superioridade frente aos demais profissionais em saúde não é sinônimo de resolutividade, visto a necessidade do trabalho em equipe dentro dos serviços e redes de saúde”, explica Cely.

Jogos Vorazes como cenário na Educação Médica

O Role-Playing, utilizado nas aulas da disciplina, é um método de dramatização com a inserção dos estudantes em papéis em que deverão solucionar um problema-chave, nesta situação, um caso clínico. Nesta metodologia, usada sob a tutela do professor João Mazzoncini de Azevedo Marques, Coordenador da Residência em MFC no HCFMRP/USP, é feito um paralelo sobre o acesso e a construção médica junto a ideia do envio de adolescentes à arena da capital de Panem como tributos.

Fala-se da ideia de que os tributos representam seus distritos e deverão competir pela sobrevivência, através da eliminação dos outros, na ideia de que apenas o melhor sobrevive. Porém, vencem os jogos vorazes na saga tradicional aqueles que souberam organizar um trabalho em equipe, e provenientes do distrito mais vulnerável e estigmatizado de Panem: O distrito 12.

“Em um Brasil que carece de recursos, tendo em sua constituição uma grande parcela da população que depende do Sistema Único de Saúde, e um território amplo de zonas rurais e remotas, necessitamos de uma formação médica humanizada e qualificada, de um profissional empático que saiba atuar dentro de uma equipe multiprofissional e atender a população, principalmente as em situação de vulnerabilidade, de integral e centrada na pessoa e não na doença. Para isso, colocamos um caso complexo para ser desenvolvido pelos alunos de medicina em uma zona remota com escassez de recursos, muito semelhante às condições do distrito 12 de Panem. E damos início ao debate teórico-prático, sobre a importância da Medicina de Família e Comunidade e do Método Clínico Centrado na Pessoa”, destaca Cely.