A equipe, formada por profissionais da saúde do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (HCFMRP) e do HC Criança, realizou neste sábado (19/11) a segunda cirurgia para separação das irmãs siameses unidas pela cabeça, Allana e Mariah.
O procedimento durou 9 horas e as irmãs estão respondendo bem e sendo cuidadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do HC Criança. A intervenção foi realizada por equipe composta por cerca de 40 profissionais de diversas áreas como Neurocirurgia Pediátrica, Cirurgia Plástica, Pediatria, Radiologia, Enfermagem e de apoio.
Assim como a primeira cirurgia, o procedimento foi minuciosamente planejado com exames clínicos, laboratoriais e de imagem de ressonância magnética e tomografia computadorizada, integrados em sistema de realidade virtual, que são inéditos no caso das gêmeas Allana e Mariah. Os recursos contribuem para que os cirurgiões possam visualizar com óculos especiais a anatomia dos crânios, dos cérebros e dos vasos sanguíneos que serão abordados durante a cirurgia.
A técnica utilizada foi desenvolvida e aprimorada pelo médico norte-americano James Goodrich e prevê a separação por etapas. Dessa forma, a equipe médica ainda planeja mais duas cirurgias que devem ocorrer durante o primeiro semestre de 2023.
“Até os anos 1990, a cirurgia era realizada em só uma oportunidade. Com isso, os cirurgiões passavam de 24 até 36 horas no centro cirúrgico e os resultados não eram efetivos já que fazer a separação de toda a circulação que se comunica parcialmente em uma única vez trazia um sério comprometimento cerebral para as crianças e poucas sobreviviam. Assim, ele desenvolveu a técnica chamada de estagiada: são quatro etapas como se fossem os pontos cardeais, completando todo o perímetro”, explica o professor Hélio Rubens Machado e chefe do setor de Neurocirurgia Pediátrica.
Primeiro caso
A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando 1 caso em cada 2,5 milhões de nascimentos. No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018, após cinco procedimentos cirúrgicos, pela equipe do HC e HC Criança. O caso foi acompanhado pelo médico norte-americano James Goodrich, que é referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por Covid-19 em 2020.
“Nós não podemos deixar de fazer uma referência ao Goodrich, porque foi a pessoa que mais trabalhou com esse tipo de caso tão complexo, tão difícil e tão raro. Mas ele conseguiu com muita dedicação e viajando pelo mundo inteiro, inclusive vindo várias vezes a Ribeirão Preto, nos ajudar a estabelecer essa técnica”, afirma o professor Hélio.