Os impactos da degradação do meio ambiente já são sentidos por toda a humanidade e, por isso, representantes oficiais de governos e membros da sociedade civil debatem ações na 27ª edição da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), que acontece de 6 e 18 de novembro no Egito. O encontro prevê o estabelecimento de metas para os 196 países que assinam o Acordo de Paris, além da realização de painéis e debates.
Durante o evento internacional, a estudante de Medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP Livia Pinaso representa a Students Organising for Sustainability UK (SOS-UK), que é uma organização educacional sem fins lucrativos voltada para a sustentabilidade, no Pavilhão da Juventude. A jovem apresenta o projeto 1.5 degrees, que busca estabelecer um ranking das melhores universidades do mundo quanto à sustentabilidade e desenvolvimento de lideranças.
“Eu sou a diretora de pesquisa do projeto e estou muito feliz em poder apresentá-lo em um evento tão sério e tão importante como é a COP 27. As análises do nosso grupo envolvem a avaliação de 42 instituições de diversos países em relação a participação dos alunos na tomada de decisão, abordagem da crise climática na grade curricular, realização de ações em gestão ambiental, entre outros aspectos”, conta.
Além da apresentação do projeto 1.5 degrees na COP 27, a estudante participou do evento internacional Global Summit 2022 da FORA Netwotking for Change, organização filiada ao G-20 e amiga da ONU Mulheres, no dia 4 de novembro no Canadá. “A conferência foi incrível, porque contribuiu com treinamentos que auxiliam na criação de projetos que favorecem a igualdade de gênero e com a troca de experiência com jovens mulheres de diversas origens”, conta.
Como tudo começou
Criança curiosa e questionadora, Lívia sempre fez muitas perguntas sobre o mundo e o cuidado com o meio ambiente sempre foi um assunto de interesse. “Eu sempre me preocupei com as questões climáticas. Eu não tinha muitas ferramentas, mas conversava com meus pais e com outras pessoas sobre reciclagem e outros cuidados com o planeta”, recorda.
Já no Ensino Médio, Livia e o colega de turma Victor Marotta Souza Cruz foram premiados como melhor trabalho do Brasil no Prêmio Jovem da Água de Estocolmo 2019 com o estudo Síntese de partículas de magnetita associadas a carvão ativo e poliuretano para a adsorção de corantes e íons de Cd e Co. O trabalho foi feito durante o curso técnico em Química na ETEC Irmã Agostina em São Paulo com orientação da professora Márcia Freitas Silva.
“Por causa desse prêmio fui representar o Brasil no evento anual e internacional chamado World Water Week, que aconteceu na Suécia e foi minha primeira viagem internacional, sozinha e de avião. A experiência abriu minha mente para a importância da educação e das mudanças climáticas, pude conversar com diversas pessoas que até hoje preservo entre as amizades”, explica Livia.
Além de abrir portas, a participação do evento internacional despertou a vontade de ser uma ativista em políticas ambientais. “Eu já tinha uma grande insatisfação com a realidade no meio ambiente, mas quando voltei para o Brasil senti que era o momento de começar a me mobilizar politicamente. Eu não consigo expressar em palavras o quanto aquele momento me transformou”.
Em 2020, com o impulso por realizar ações práticas Livia co-fundou a Polluters Out Brasil, que é uma organização sem fins lucrativos que realiza ações digitais e presenciais e divulga a ciência, onde atualmente é líder nacional com atividades nas áreas de saúde, emergência climática e indústria de alto carbono.
Além disso, a estudante de Medicina participa do grupo Mock COP, organização vinculada a Students Organising for Sustainability UK (SOS-UK), que realiza simulações para capacitar jovens na área de diplomacia climática e projetos vinculados à sustentabilidade; e tornou-se Líder Estudar da Fundação Estudar em 2022.
A Medicina e os estudos ligados à sustentabilidade
A medicina nasceu como uma escolha para Livia ao acompanhar a mãe durante o processo de tratamento oncológico quando tinha 12 anos. “Por um período tive receio de que ser médica fosse uma responsabilidade muito grande e até fiz estágios e trabalhei em outras áreas. Mas quando iniciei um trabalho voluntário com a minha mãe em uma maternidade, vi que a medicina era para mim”, recorda.
Para se preparar para o vestibular, Livia estudou por três anos em um cursinho preparatório em São Paulo com gratuidade pelo desempenho. “Primeiramente, passar na USP foi uma surpresa e o momento mais incrível foi quando olhei para o Prédio Central e tudo se tornou muito real. Foi muito bom estar ali com a minha família e com os amigos, pessoas que investiram e acreditaram em mim”.
Para o futuro, a estudante planeja unir a saúde com o meio ambiente com projetos que buscam aprimorar o entendimento de como as mudanças climáticas, desmatamento e outras situações podem comprometer a vida do ser humano. Além de se interessar pelo estudo das práticas médicas realizadas pelos povos originários.
“Eu vejo que a minha vida foi e é muito impactada pela educação e pela ciência e eu desejo tudo isso que eu vivo hoje para ouras pessoas. Por isso trabalho para aumentar o acesso à educação e à saúde e digo: não tenha medo, comece pequeno, busque ajuda, faça e refaça planos e chegue a lugares incríveis que você nunca imaginou estar”, finaliza.