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Imagem: StartupStockPhotos/Pixabay

Universitários da área da saúde percebem melhora de habilidades socioemocionais na pandemia

Com a chegada da pandemia, tudo mudou em pouco tempo: desde deixar de ver familiares e amigos até a necessidade de ficar isolado em casa. A nova realidade afetou grande parte de estudantes e professores que precisaram se adaptar a uma nova rotina: o ensino remoto emergencial. Para identificar como os estudantes universitários têm percebido o desenvolvimento ou o aprimoramento de habilidades socioemocionais durante a pandemia, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP entrevistaram 954 universitários da área da saúde, moradores das regiões Sul e Sudeste do Brasil, para um estudo sobre a autopercepção dos impactos da crise mundial na vida acadêmica.

“Identificamos que os alunos participantes possuem uma forte percepção de que o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades socioemocionais são importantes para o sucesso profissional. Neste sentido, eles perceberam melhora quanto à procrastinação, ao protagonismo nos estudos, à colaboração com os colegas e à abertura para novas experiências”, revela Gilberto Leal, fonoaudiólogo formado pela FMRP e um dos autores do trabalho.

Entretanto, a pandemia afetou negativamente os estudos por gerar sentimento de frustração e de desmotivação. Os participantes, que responderam um questionário online com 25 questões no final de 2020, relataram ainda que viveram sensação de desestabilidade emocional e diminuição do desempenho escolar durante o primeiro ano de pandemia.

“Frustração e angústia são sentimentos esperados durante períodos de isolamento, como vivenciamos na pandemia. Isso acontece com a população geral e é causado por fatores estressores, como: ausência de liberdade física e menor frequência de interação social. Particularmente entre os alunos, o deslocamento para o remoto contribuiu para a percepção dos sentimentos negativos”, explica Leal.

O fonoaudiólogo ainda aponta que é importante refletir sobre as estratégias acadêmicas para auxiliar os estudantes a lidarem com os desafios.Muitos estudos têm trabalhado com a temática da saúde mental dos estudantes e é sabido que algumas estratégias podem ser adotadas pelas instituições de ensino, como: desenvolver tutoria para auxiliar no estabelecimento de uma rotina saudável; acompanhar e acolher o estudante, tanto de forma individual quanto em pequenos grupos; e criar encontros virtuais para promover práticas integrativas e/ou complementares”, comenta.

Um exemplo de iniciativa de tutoria é o programa Mentoring, que é coordenado pelo Centro de Apoio Educacional e Psicológico (CAEP) da FMRP e tem o objetivo de acolher os alunos da graduação do período de adaptação. Os estudantes são inseridos em grupos que funcionam como espaço de conversa, suporte e direcionamento adequado formado por calouros, peers e mentores.

Habilidades não cognitivas: o que são e importância

Também chamada de soft skills, as habilidades não cognitivas ou socioemocionais são caracterizadas pelas competências que vão além do conhecimento acadêmico. Entre os principais exemplos estão a autonomia, o controle emocional, a sociabilidade, a capacidade de tomar decisões e até a organização.

“Esse desenvolvimento tem sido tão ou mais valorizado do que o conhecimento teórico e prático no mercado profissional e, por isso, deve ser explorado, explica a professora Tatiane Martins Jorge, orientadora do estudo e docente do curso de Fonoaudiologia da FMRP, vinculada à Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência (FAEPA) do HCFMRP-USP.

A docente ainda explica que as mudanças no modo de aprender e fazer são oportunidades para se desenvolver as habilidades mencionadas. “Apesar da pandemia e outros contextos inesperados provocarem muito medo e frustração, é importante que a gente comece a perceber o que melhorou em nós e, muitas vezes, são aprendizados que vamos levar para a vida inteira. ”.

Outro ponto importante do estudo é que os alunos identificaram o sentimento de protagonismo em relação aos estudos. “Para que um indivíduo atinja a capacidade de ter um bom gerenciamento de tempo, é preciso desenvolver ou aprimorar habilidade como: definir metas, estabelecer planos, gerenciar imprevistos, cumprir prazos, entre outros. Sendo assim, a autopercepção de autonomia no estudo só foi possível graças à continuidade das atividades, mesmo que de forma remota”, finaliza.

O estudo Self-perception of non-cognitive skills among undergraduate health students during Covid-19 foi publicado na Revista Brasileira de Educação Médica. Além de Leal e da professora Tatiane, o artigo conta com autoria dos docentes Edson Zangiacomi Martinez e Patrícia Pupin Mandrá, todos da FMRP.

Para mais informações: gilbertoleal@usp.br e tmjorge@alumni.usp.br